Resumo da situação da Mercedes e de Lewis Hamilton

segunda-feira, 13 de março de 2023 às 19:11

Toto Wolff, George Russell e Lewis Hamilton

A Mercedes teve uma primeira corrida preocupante na temporada 2023 da F1 e agora a pressão está crescendo dentro e fora da equipe, com as esperanças de título de Lewis Hamilton em seríssimas dúvidas.

O GP do Bahrain de 2023 sugeriu que a Mercedes falhou mais uma vez em construir um carro para disputar o título. Os rumores positivos vindos da equipe entre o final de 2022 até o início de 2023 rapidamente deram lugar ao pessimismo, com Hamilton terminando em P5 e seu companheiro de equipe Russell em P7 no Bahrain. Nesse GP os Prateados foram apenas a quarta força, atrás da dominante Red Bull, depois Aston Martin e Ferrari.

Hamilton terminou 50 segundos atrás de Max Verstappen, que conquistou a vitória com Perez em P2 mostrando o domínio da Red Bull.

O fato de Hamilton ter terminado atrás do Aston Martin de Fernando Alonso e da Ferrari de Carlos Sainz e Russel atrás da outra Aston de um Stroll claramente limitado pelo acidente sofrido 15 dias antes, acendeu todas as luzes da equipe alemã.

Hamilton pareceu criticar sua equipe por não ouvir suas opiniões sobre o desenho do carro, algo que ele nunca fez antes, enquanto o chefe da equipe, Toto Wolff, descreveu o GP do Bahrain como “um dos piores dias de corrida da minha vida”.

Com as expectativas bem moderadas enquanto a Mercedes se prepara para o GP da Arábia Saudita deste fim de semana, o segundo de um calendário recorde de 23 corridas, como será que as coisas chegaram nesse ponto?

Os primeiros sinais de problemas

A Mercedes dominou a F1 após a introdução dos motores turbo-híbridos em 2014, conquistando oito títulos consecutivos de construtores, os primeiros sete dos quais foram acompanhados por títulos de pilotos – seis de Hamilton e um de Nico Rosberg.

Enquanto a Red Bull provou ser páreo para a Mercedes quando Verstappen conquistou seu primeiro título em 2021, uma decisão já havia sido tomada para introduzir um novo regulamento radical de efeito solo para 2022, o que teoricamente facilitaria uma redefinição da hierarquia estabelecida.

Dado o brilhantismo sustentado da Mercedes, quando a equipe revelou um conceito diferente de todos nos testes de pré-temporada, a maioria presumiu que mais uma vez os Prateados superariam seus rivais, que tinham desenhos de carro mais tradicionais, e começaria outro período de domínio.

Mas, para a surpresa da maioria, logo ficou claro que eles haviam sido pegos pelos novos regulamentos e estavam sofrendo – mais do que qualquer outra equipe – com um carro que quicava demais e impedia que mostrasse todo o seu potencial.

Isso deixou os Prateados fora da disputa por vitórias, enquanto Red Bull e Ferrari lutavam por vitórias ao longo da primeira metade de 2022.

A Mercedes melhorou admiravelmente seu carro no segundo semestre do ano passado, superando regularmente a Ferrari e chegando perto da vitória em várias ocasiões, antes de Russell finalmente vencer a penúltima corrida da temporada no Brasil.

A vitória pareceu indicar que a Mercedes havia superado seus problemas e deu à equipe e a seus torcedores otimismo de que 2023 traria um retorno à disputa pelo título.

Um início “broxante” de 2023

Descobriu-se que a relativa melhora de desempenho durante a segunda metade da temporada pode ter sido a pior coisa que poderia ter acontecido à Mercedes, já que foi o suficiente para convencê-los a manter seu tão falado conceito zeropod.

Houve um otimismo cauteloso vindo de Brackley durante o inverno europeu, com Wolff e seus pilotos adotando um tom desafiador, já que a fé no potencial inexplorado de seu conceito permaneceu.

No lançamento do W14 em 15 de fevereiro, Wolff avisou que eles poderiam começar a temporada atrás da Red Bull, mas estava confiante de que o carro “em algum momento seria competitivo o suficiente para lutar na frente do grid”.

Houve bastante preocupação nos testes de pré-temporada, já que o segundo dos três dias viu Hamilton lutar nas curvas pela manhã antes de Russell quebrar com um problema hidráulico no início da tarde, mas um dia final melhor manteve alguma esperança.

Russell deixou o Bahrain após a pré-temporada para trabalhar na melhoria do carro na fábrica no Reino Unido e, ao retornar ao circuito de Sakhir, expressou confiança de que um progresso significativo tinha sido feito.

“Acho que tivemos tempo entre o teste e a corrida para analisar o que aconteceu”, disse Russell antes do primeiro treino. “Havia algumas coisas acontecendo com o carro que não esperávamos, mas conseguimos resolver com bastante facilidade. Estávamos apenas trabalhando na janela um pouco errada. Então, vamos colocar essa mudança para este fim de semana.”

Mas essa declaração de Russell marcou o fim de qualquer elogio ao carro. Três sessões de treinos, classificação e uma corrida depois, ficou claro para a Mercedes que seu conceito era falho e que suas esperanças de título em 2023 já estavam em frangalhos.

O que deu errado?

O domínio da Mercedes de 2014-2021 foi construído com base no fato de que eles tinham o melhor motor, então é possível argumentar que seu departamento de aerodinâmica nunca precisou ser o melhor.

Embora seja errado sugerir que seus talentosos projetistas e engenheiros são inferiores, é justo questionar se eles têm alguém que se iguale ao diretor técnico da Red Bull, Adrian Newey, mas você poderia dizer isso sobre todas as outras equipes.

Embora algo claramente tenha dado errado com o conceito do Mercedes W13 e W14, também há preocupações de que seu motor não seja mais o mais potente como outrora, com Ferrari e Red Bull parecendo ser mais potentes após a introdução do combustível E10, ou seja, 10% dele sem emissões de carbono.

A Mercedes pareceu ter produzido um motor altamente confiável desde o início do congelamento em 2022, enquanto outras equipes, como a Red Bull e a Ferrari, talvez tenham optado por uma abordagem mais agressiva de produzir um motor de alto desempenho que eles poderiam tornar mais confiável depois, já que atualizações de confiabilidade são permitidas pelo regulamento.

A perda de pessoal chave nos últimos anos pode explicar parte dos problemas. O chefe de motor, Andy Cowell, partiu antes da temporada de 2020, o ex-diretor técnico James Allison assumiu uma nova função em 2021, que o viu se afastar das funções do dia-a-dia, o aerodinamicista chefe Eric Blandin foi para a Aston Martin e, mais recentemente, o estrategista chefe James Vowles saiu para se tornar o chefe da equipe Williams.

Além disso, a Mercedes perdeu o chefe de sua divisão de engenharia mecânica, Ben Hodgkinson, para a Red Bull no ano passado, quando seus rivais iniciaram uma campanha de contratação agressiva para sua nova divisão de motores, que viu cerca de 15 outros funcionários trocarem os Prateados pelos Touros.

Outro “problema” é que a Mercedes, uma das equipes mais ricas, teve e tem que se ajustar a um teto orçamentário desde 2021, o que os impede de jogar dinheiro em soluções da maneira que podiam fazer no passado.

Quando a Mercedes conseguirá voltar para a frente?

A esperança de lutar por título nesta temporada parece bastante improvável, mas ainda não impossível. A questão para muitos é se eles podem se reconstruir para a temporada de 2024.

Isso não quer dizer que eles desistirão completamente de seu W14, eles podem fazer mudanças radicais nele que podem ajudá-los no caminho de volta ao sucesso.

Karun Chandhok, da Sky Sports F1, comparou recentemente a situação que estão enfrentando a um projeto de construção, apontando significativamente que os planos para o carro da Mercedes em 2024 já devem estar em um estágio avançado, tal é a pressão implacável que os engenheiros da F1 enfrentam.

“É como construir um bloco de apartamentos”, disse Chandhok. “Pense em um ciclo de quatro anos para construir um bloco de apartamentos de quatro andares.”

“A Mercedes tem que pensar: ‘ouça, vamos jogar fora e derrubar os primeiros dois anos que construímos e construir três níveis ao mesmo tempo que todo mundo vai construir apenas o último nível para o próximo ano? ‘

“E essa decisão terá que ser tomada agora porque a arquitetura, o layout e o conceito do carro serão assinados em abril por todas as equipes. Portanto, nas próximas corridas, eles terão que decidir se abandonam o conceito e vão com um conceito totalmente novo para o próximo ano.”

Andrew Shovlin

Notícias da Mercedes pós-Bahrain sugerem que uma mudança significativa está por vir. Em sua recapitulação do GP, o diretor de engenharia de pista, Andrew Shovlin, deu a entender que a equipe pode finalmente se conformar – ou pelo menos se aproximar – de um desenho mais tradicional.

“Dada a diferença para a frente, é claro que vamos olhar para mudanças mais radicais”, disse Shovlin.

“Mas essas mudanças levam tempo para se transformar em uma solução mais rápida no túnel de vento – você não pode fazê-las de um dia para o outro. Há muito desenvolvimento que você precisa fazer em qualquer tipo de grande mudança na geometria do carro.”

“Claro, estamos olhando para onde podemos melhorar o carro, estamos procurando potencial para desenvolver e você verá mudanças visíveis no carro nas próximas corridas”.

Enquanto isso, a Mercedes também enviou uma carta aberta aos seus torcedores dizendo que estavam “trabalhando com urgência e calma para construir nosso plano de recuperação”, mas não “entrariam em pânico e nem fariam reações instintivas ou procurariam bodes expiatórios”.

O futuro de Hamilton está em dúvida?

Hamilton quer se tornar o primeiro piloto do esporte a vencer oito campeonatos mundiais. Mas aos 38 anos ele não tem muito mais tempo para isso, ainda mais que nessas alturas da vida ele demonstra interesse em outras coisas, além da Fórmula 1.

Seu contrato atual expira no final desta temporada, mas no final de 2022 e antes do início desta temporada, Hamilton e Wolff indicaram que o acordo de extensão era uma formalidade.

“Quanto às discussões contratuais, temos um ano inteiro pela frente”, disse Wolff em janeiro. “Estamos tão alinhados – nos últimos 10 anos nosso relacionamento só cresceu.”

“É apenas uma questão de ele estar fisicamente de volta à Europa, juntar nossas cabeças, lutar um pouco e depois sair da sala com fumaça branca depois de algumas horas.”

Mas Hamilton voltou à Europa e nenhum acordo foi anunciado, mas falando antes do GP do Bahrain, o heptacampeão insistiu que outro ano “difícil” não alteraria sua intenção de permanecer na equipe.

No entanto, após um fim de semana frustrante, suas alegações pós-corrida de que a equipe “não o ouviu” em relação às preocupações com o W14 reacenderam as especulações sobre se ele poderia reconsiderar seu futuro.

Aposentadoria? Mudança para a Ferrari? Muitos especulam sobre essas duas alternativas, mas só a evolução ou não do W14 dirá, provavelmente lá para o mês de outubro deste ano.

AS - www.autoracing.com.br

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