Obrigado, Felipe Massa!
quarta-feira, 16 de novembro de 2016 às 16:33
Felipe Massa – GP do Brasil 2016
Colaboração: Victor Manoel de Oliveira Nunes
A vida nos reserva momentos memoráveis e surpreendentes até quando a situação foge um pouco do script desejado. Acredito que a nossa conduta, caráter e forma de analisar e resolver os obstáculos, são essenciais na construção de uma imagem amigável e querida pela maior parte das pessoas. O que vimos e sentimos domingo foi uma demonstração do quão Felipe Massa é especial para o mundo frio da F1 e torcedores do esporte a motor.
Alegria, tristeza, raiva, angústia… Sentimentos inerentes a todo e qualquer ser humano e como afirmava Nelson Rodrigues “toda unanimidade é burra”, Felipe não agradou a todos, tão pouco agradará. Todavia, devemos admitir: não faltou luta, garra, motivação, respeito em fazer o melhor dentro e fora das pistas. Lembrem-se da Fórmula Futuro, iniciativa do Grupo FIAT (atualmente FCA) e idealizada em parceria com o paulista de Botucatu, no intento de alavancar a sucateada e esquecida “categoria de base” do automobilismo tupiniquim.
E o Desafio das Estrelas que trouxe nomes de calibre internacional como Jeff Gordon, Michael Schumacher próximo aos admiradores, promovendo confraternização e competição em elevado nível entre os drivers nas férias. Amor à pátria, orgulho e divulgação do Brasil no exterior… Felipe definitivamente honrou nossa bandeira.
Infelizmente na percepção de alguns, Massa perdeu a credibilidade no “Fernando is faster than you”, contudo voltemos ao tempo. Qual equipe logo após a dispensa pela Sauber no final de 2002 investiu intensamente na sua carreira, sendo piloto de testes da Rossa em 2003? Qual construtora contribuiu no retorno a Sauber? Qual escuderia proporcionou suporte fundamental no momento mais crítico de sua vida e sem a certeza que voltaria em condições ideais para pilotar, rescindiu contrato do “ice man” que tinha conquistado o campeonato quase 02 (dois) anos antes? E Michael no mercado?
Não esqueçamos que a tradicional Scuderia Italiana autorizou o pupilo a disputar o GP Brasil 2006 usando macacão nas cores do seu país.
Quero dizer meus caros que o comportamento no GP de Hockenheim em 2010 foi motivado por um sentimento, ausente e imprescindível nos dias de hoje: gratidão. Concordando ou não, foi atitude de homem. Retribuição a completa assistência que a Ferrari propiciou a ele nos anos anteriores. O “nós” falou mais alto que o “eu”. Não houve ego, tão pouco jogo de vaidades por parte do brasileiro.
Conhecendo a estrutura do Cavallino Rampante, os procedimentos e regras; o honrado e exemplar funcionário, fez o dever ao qual era incumbido. Uma lástima que o episódio aconteceu justamente 01 (um) ano depois do acidente em Hungaroring 2009. Entretanto, a F1 não é ambiente para amadores.
Relevante mencionar que mesmo apresentando rendimentos regulares, ocasionalmente abaixo da sua capacidade, Massa correu por Maranello longínquas 08 (oito) temporadas. Acima, somente o Germânico 11 (onze). Traduzindo em números, o alemão 180 grandes prêmios e o brasiliano 139 (cento e trinta e nove). Nas estatísticas da F1, é o terceiro com mais participações pela mesma equipe. Segundo está o escocês David Coulthard – Mclaren 150 (cento e cinquenta).
É o quarto, junto a Fernando Alonso (05 temporadas) em conquistas pela Ferrari: 11 (onze). Schumacher 72 (setenta e duas); Niki Lauda 15 (quinze); Alberto Ascari 13 (treze) estão à frente. O segundo em número de voltas 7.914; Michael 10.251. E terceiro em poles: 15 (quinze). Schumi 57 (cinquenta e sete) e Lauda 23 (vinte e três). Dados que ninguém coloca defeito.
Não ter sido campeão 2008 foi obra do destino. O próprio Massa afirmou não sofrer pesadelos. Inclusive porque chegou a última etapa em Interlagos necessitando da vitória e torcendo pela ocorrência de resultado atípico do inglês Lewis Hamilton. O clima favoreceu; Vettel partiu para cima e Timo Glock arriscou, mas… Recordo palavras de Norbert Haug posteriormente a decisão “cinematograficamente” épica: “eram todos contra nós”.
Curioso que Massa não culpa a maracutaia de Cingapura como determinante para o vice. Junção de fatores, da rodada quando estava em 2º lugar na Malásia; má pilotagem na chuva (Mônaco e Silverstone 2008); motor quebrado faltando 03 (três) voltas da quadriculada (Hungria) ou punição ao provocar rodada de Hamilton (Fuji), fizeram a diferença. No entanto, convenhamos; temporada 100% limpa, sem erros ou falhas no equipamento é praticamente impossível. Mercedes AMG é o exemplo recente.
Ser World Champion e “estampar o nº 1” é para minoria. Receber o exclusivo troféu na festa de gala da FIA é consequência. Porém, aqueles que não lograram o objetivo, não podem ser vistos como derrotados. 01 (um) Vice Campeonato, 11 (onze) vitórias, 16 (dezesseis) pole positions, 15 (quinze) voltas mais rápidas e 41 (quarenta e um) pódios…
Gilles Villeneuve, Stirling Moss, Carlos Reutemann, Ronnie Peterson, Jacky Ickx; importantes nomes que estiveram no Mundial da Fórmula 1 e não foram campeões, permanecem na história. E nem por isso deixaram de ter trajetórias vitoriosas.
O até então garotinho de Botucatu, começou na moto, e por receio de Titônio, trocou as duas pelas quatro rodas aos 08 (oito) anos de idade. Vislumbrando o futuro, resolveu trabalhar como entregador de comidas durante o período do GP Brasil 1999 a Benetton e disse ao cozinheiro Felice Guerini (laborou, a posteriori, na Ferrari) que um dia estaria pilotando ali.
A maioria talvez não saiba, mas para bancar a estadia na Europa, seus pais precisaram vender um carro. Sem o esforço da família, perseverança, sonho em conjunto e acreditar no potencial, talento e que juntos somos mais fortes, nada disso seria possível. E Nós estaríamos ainda mais carentes de resultados.
Às vezes, o que falta a humanidade é olhar a vida de maneira mais amena, com menor pressão, maior afeição ao próximo e dignidade em reconhecer o empenho e a vontade de fazer o diferente. Nem tudo está ao nosso controle, porque se estivesse…
Felipe, a torcida brasileira, você não precisa pedir desculpas. Nós que agradecemos por representar tão bem a nossa nação. O acidente? Foi um mal necessário para despedir-se dos fãs em grande estilo. Com reverência, como merecem os verdadeiros e dignos lutadores. Nosso muito obrigado!
Victor Manoel de Oliveira Nunes
Natal – RN
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