Naquela mesa de bar

quinta-feira, 13 de junho de 2024 às 13:36

Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar

A noite ainda brigava com a derradeira luminescência de uma tarde ensolarada, clima de sexta-feira, euforia e verão. Sentados na parte externa do bar, um grupo discutia animado, cerveja e caipirinha aos montes. No boteco a inclusão é quase natural, todos têm vez e opinião, jovens e velhos, ricos, pobres, ajeitados, o doutor e o simplório.

De origem italiana Mario, sessenta e tantos anos, fala alto gesticula e confronta o jovem Beto: Tá todo mundo aí maravilhado com a estreia do Bearman (P7 em Jeddah). Emerson debutou na Inglaterra a bordo do Lótus 49, velho e obsoleto, assim mesmo terminou em P8. Na segunda corrida ainda com modelo antigo foi P4.

Quando sentou no Lotus 72, prossegue Mario, simplesmente venceu. Estava apenas na sua quarta prova de F1. Aquilo sim era competição capaz de produzir resultados extraordinários, a mesma imprevisibilidade que fez o Novorizontino eliminar o São Paulo no Morumbi lotado (ref. ao campeonato paulista de futebol 2024).

Beto enfático aponta o celular cuja tela exibe o primeiro triunfo de Emerson Fittipaldi: É isso que vocês chamam de competitividade? O brasileiro recebeu a bandeirada 36 seg na frente do segundo; 45 seg em cima do terceiro… P4, P5 e P6 uma volta atrás; P7 levou 02 voltas. 14 pilotos concluíram a corrida, 10 ficaram pelo caminho.

O ponderado Rafael resolve interferir… Olha, nem tanto ao céu nem tanto a terra… Fittipaldi na Inglaterra apesar do oitavo lugar foi antepenúltimo entre os dez que terminaram o GP. Em Watkins Glen, P3 na largada, andou a maior parte do tempo no oitavo lugar e foi herdando posições até vencer sem praticamente ultrapassar ninguém.

Diogo cinquentão entra no debate: Eu nem assisto mais a F1, está muito chata e cheia de “mimimi” qualquer coisinha gera punição, bandeira amarela, não tenho estômago para acompanhar essa porcaria sem graça. E não é só a F1, o mundo anda preocupado demais com bobagens.

Por acaso vocês já viram uma foto do Manfred Winkelhock em Jacarepaguá passando a mão na bunda de uma daquelas garotas que ficavam no grid pouco antes da largada? Hoje o cara seria preso, banido do esporte, contudo na época o alemão era tido como irreverente, divertido, boa gente, afirma Diogo assumindo uma ideia tosca e ares de sabichão.

Alguém decide ir embora, outro personagem retruca… Pera aí… Também vou… Começa então uma problemática verificação: Quem bebeu o que e quanto paga? A conversa muda de rumo.

Apaixonado por carros Mario guarda em sua garagem algumas raridades: Fusca 68, Opala 6cc 74, Alfa Romeo Spyder 1971 e no dia a dia dirige um Golf mecânico. Ferrarista resoluto tem como ídolos Jim Clark, Gilles Villeneuve, Senna e Schumacher, este pela proximidade com a marca italiana.

Ao contrário do velho “tifosi” Beto nascido em 2005 utiliza bicicleta de modo regular, em sua opinião não existe e nunca existiu ninguém melhor que Hamilton. Através da internet participa de grupos e debates sobre a categoria. Durante transmissão dos GPs encaminha mensagens para locutor e comentaristas da Band, ao mesmo tempo interage com amigos virtuais.

Diogo é um sujeito apenas tolerado, evitado quando possível. Bebe além da conta, cria confusão, fã do Senna muito mais pela memória afetiva da mocidade que propriamente paixão pelo esporte.

A discussão entre eles jamais alcançará qualquer tipo de consenso, realidades opostas, gerações diferentes separadas por décadas e convictas de suas verdades.

Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP

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