F1 – Bernie Ecclestone
segunda-feira, 16 de abril de 2018 às 15:13
Bernie Ecclestone
Colaboração: Carlos Alberto Goldani
Provavelmente a única unanimidade envolvendo a figura controversa de Bernie Ecclestone na Fórmula 1 é que a história da categoria pode ser separada em dois períodos, antes e depois do britânico.
Bernard Charles Ecclestone nasceu em Suffolk, Inglaterra, em outubro de 1930 (tem 87 anos) e é o empresário que transformou a Fórmula 1 em um negócio bilionário. Depois de comandar a principal categoria do automobilismo esportivo por décadas, o controle da F1 foi repassado para a Liberty Media Corporation. Em janeiro de 2017 Ecclestone foi substituído por Chase Carey como executivo-chefe da F1 e nomeado como presidente emérito, um cargo totalmente decorativo.
O envolvimento mais efetivo do britânico com o esporte abrangeu, entre diversas outras atividades, representar os interesses do único campeão póstumo da categoria, Jochen Rindt e a compra da equipe Brabham em 1972. O nome de Ecclestone está singularmente associado ao sucesso do brasileiro Nelson Piquet. No início de sua carreira o piloto padeceu com a falta de capital, Bernie sugeriu e o acompanhou em um périplo bem-sucedido pelo mercado brasileiro para arrecadar patrocínios. Piquet pilotou em oito temporadas para a equipe Brabham a partir de 1978, perdeu o título de 1980 depois de uma disputa acirrada com Alan Jones, acabou sendo vitorioso em 1981 e 1983 (seu terceiro mundial foi obtido em 1987 na equipe Williams).
A sua fortuna pessoal de Bernie e a sua importância para F1 cresceram a partir do pioneirismo na venda de direitos televisivos da F1 na década de 1970. Excelente negociador, conseguiu nos termos do Acordo Concorde, contrato celebrado entre todas as equipes, FIA e FOCA em 1981, os direitos de administração, instalação e logística de todos os GPs da Fórmula 1. Foi o marco inicial para transformar-se em um dos homens mais ricos do Reino Unido.
O faro comercial aguçado de Bernie entendeu que manter a F1 na órbita dos “garagistas” limitava os ganhos financeiros e reorientou a categoria para fábricas e novos mercados, localizados onde existem os maiores fluxos de divisas do planeta, países produtores de petróleo e a economia crescente no oriente.
Bernie Ecclestone também tem o seu nome vinculado a múltiplas controvérsias. Foi sócio de um personagem com uma reputação de ‘trambiqueiro’, Flávio Briatore, que foi banido da F1 por ter sido o arquiteto da trapaça protagonizada por Nelsinho Piquet no GP de Cingapura em 2008. O piloto provocou intencionalmente a interrupção da prova para favorecer uma vitória improvável do seu colega de equipe Fernando Alonso.
Ecclestone foi afastado da gestão da F1 por ser radicalmente contra a orientação imposta pelos novos proprietários, que investem na popularização do esporte. Com declarações polêmicas o britânico defendeu para diversos representantes da mídia que não é interessante a categoria se aproximar dos jovens, por conta de um suposto baixo poder aquisitivo desse público. Em suas próprias palavras “Querem atrair garotos de 15 anos para assistir a F1. Não tem lógica, porque alguém faria propaganda de relógios Rolex para pessoas que não tem dinheiro para comprar um? Estes jovens não aplicam recursos em bancos, então porque a UBS investiria para patrocinar um GP? É preferível endereçar um rico de 70 anos. Não há porque motivar crianças, a menos que a Disneylândia queira pôr dinheiro nas equipes”.
Em 1997 foi envolvido em uma controvérsia política na Inglaterra. Colaborou financeiramente com o Partido Trabalhista, que assumiu um compromisso público de apoiar a Diretiva da União Europeia que restringe a publicidade da indústria do tabaco. Depois de uma disputa acirrada, os trabalhistas venceram as eleições e entraram em rota de colisão com os interesses da F1, quase todas as equipes eram patrocinadas por marcas de cigarros. Bernie e Max Mosley, doadores do Partido Trabalhista, divulgaram um documento onde alertavam que o automobilismo era uma indústria que colocava a Grã-Bretanha como líder no desenvolvimento de tecnologia. Privada do dinheiro do tabaco, a Fórmula 1 sairia do Reino Unido causando a perda de 50.000 empregos diretos, 150.000 indiretos e de £ 900 milhões em exportações.
Assim como seu amigo Max Mosley, que foi envolvido em um escândalo ao ser fotografado em uma orgia com apologia ao nazismo e prostitutas, Bernie é um admirador de Adolf Hitler. Em 2009 declarou em uma entrevista que talvez o líder germânico tenha sido persuadido a fazer coisas que não fazia ideia do alcance ou não contidas em seu plano original, o respeitava como um dirigente capaz de fazer as coisas acontecerem. Segundo ele, a democracia não implica em bons resultados para muitos países — incluindo o Reino Unido. Sobre Max Mosley ser filho de um declarado fascista britânico, não considerou que o passado dele pudesse ser um problema. Também culpou os financistas judeus pela crise global da economia entre 2007 e 2010, que foi potencializada pela quebra do mercado de hipotecas nos EUA (aquele tsunami na economia mundial que o então presidente do Brasil classificou como “marolinha”).
Em 2012 o ministério público alemão acusou Ecclestone de ser culpado em casos de evasão fiscal, violação de confiança e por aceitar subornos. De acordo com o promotor, Ecclestone pagou aproximadamente US $ 44 milhões para um ex-banqueiro, para livrar-se de um obscuro débito sobre o controle da Fórmula 1. Ecclestone disse aos promotores que pagou porque foi chantageado por irregularidades em um fundo familiar controlado por uma ex esposa. Nos desdobramentos do caso, o ministério alemão declarou que Ecclestone tinha sido investigado pelas autoridades fiscais britânicas durante nove anos, e que ele tinha sonegado o pagamento £ 1,2 bilhões em impostos e taxas utilizando um esquema de evasão fiscal centrado em uma interpretação peculiar da legislação. A receita federal britânica concordou em encerrar o caso em 2008 com o pagamento de uma multa de £ 10 milhões.
Em 2012 Ecclestone anunciou seu casamento com Fabiana Flosi, então vice-presidente de Marketing do Grande Prêmio do Brasil. A diferença de idade entre eles é de 47 anos. Sua sogra foi sequestrada em 2015 em São Paulo e mantida em cativeiro durante nove dias. Na ocasião o então chefão da F1 declarou sobre a possibilidade de uma negociação com os sequestradores; “Não consigo imaginar ninguém disposto a pagar para salvar a sogra”. Felizmente não houve consequências.
Sobre o lendário pragmatismo do britânico, contam como verdadeira uma história que durante o fim de semana do GP da Argentina de 1979, Colin Chapman desafiou seu piloto Mario Andretti a jogar o presidente FOCA dentro da piscina do hotel em Buenos Aires. A recompensa seria US$ 1000. O piloto então convidou Bernie Ecclestone para trocarem ideias e, enquanto caminhavam, por não ter um assunto específico confessou a trama. Ecclestone reagiu com o senso prático que o caracterizou por toda a sua vida: “Dividimos meio a meio e você pode me empurrar”.
Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS
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