F1 – A escolha de Dietrich

quarta-feira, 20 de junho de 2018 às 12:58

Red Bull Honda

Por: Adauto Silva

“Dinherista” era o termo que a minha avó usava para se referir a pessoas que colocavam o dinheiro antes de tudo. Lógico, além de necessário, dinheiro é muito bom, já que traz conforto e ajuda a melhorar a vida de qualquer pessoa em muitos aspectos.

A Red Bull escolheu trocar seus motores Renault para os Honda em 2019 e 2020 e o Autoracing foi o primeiro site brasileiro a dar essa notícia.

Ótimo, agora vamos tentar entender o porquê dessa escolha?

Na era dos V8 aspirados, especialmente quando o desenvolvimento deles estava congelado, os motores já não faziam quase nenhuma diferença na performance geral dos carros de F1. Nessa época a Red Bull ganhou quatro campeonatos mundiais de pilotos e construtores seguidos com a Renault.

Quando começou a era híbrida em 2014, apenas Renault, Ferrari e Mercedes estavam na F1. Das três, a Renault foi a que menos investiu tempo, pessoal e dinheiro no desenvolvimento dos novos motores. Obviamente por isso ela ficou para trás e levou a Red Bull para trás também.

Mas mesmo assim a Red Bull conseguiu muitos pódios e várias vitórias nesses anos todos. Em 2014 foram três vitórias, todas de Daniel Ricciardo. 2015 foi o pior ano da UP da Renault e então a Red Bull não teve vitórias. 2016 viu duas vitórias da equipe austríaca, uma com Verstappen e outra com Ricciardo. Em 2017 foram três vitórias de novo, uma com Ricciardo e duas com Verstappen. E esse ano em apenas sete corridas a Red Bull já venceu duas vezes, ambas com Ricciardo.

E os franceses vem melhorando, tanto em potência quanto em confiabilidade. No Canadá a UP nova da Renault ganhou cerca de 12 hp e parece não ter comprometido a confiabilidade. Mas a grande esperança da Renault está na UP que deve estrear em Monza ou Cingapura, a “Spec C”. Os rumores são que eles esperam um ganho de 25-30 hp com ela.

Isso tudo sem contar as inúmeras humilhações públicas que a Red Bull impôs à Renault em 2014 e principalmente 2015. Foram tantas e tão violentas que nem Ferrari e nem Mercedes se dispuseram a fornecer à Red Bull quando procuradas. Ambas preferiram deixar de faturar mais de 25 milhões de euros por ano do que fornecer para a Red Bull.

Mesmo assim a Red Bull escolheu mudar para a Honda.

O que fez a Honda nos últimos 10 anos na F1?

Nada.

A Honda saiu completamente da F1 em 2008 quando os motores ainda eram aspirados e vendeu sua equipe para Ross Brawn. Brawn conseguiu um fornecimento de motores Mercedes e simplesmente foi campeão mundial em cima da McLaren – que era a equipe de fábrica da Mercedes – em 2009, com os mesmos pilotos que corriam para a equipe Honda nos anos anteriores sem conseguirem qualquer sucesso.

Depois a Honda resolveu voltar em 2015 – dessa vez apenas como fornecedora de motor – e no seu ano de estreia protagonizou um dos maiores “micos” que a F1 já viu. Sua UP de conceito “tamanho zero” era absolutamente horrível. Tinha um défice de mais de 120 hp em relação a UP da Mercedes e o que era zero nela era a confiabilidade, não o tamanho. A UP quebrava numa corrida sim e na outra também. E a McLaren, que já não tinha um bom carro, afundou totalmente com a UP da Honda. Vexame completo.

E as coisas não melhoraram muito em 2016, mesmo após os japoneses abandonarem o “tamanho zero” e copiarem tudo o que era visível da UP Mercedes.

Em 2017 houve uma pequena melhora e o défice passou de 120 para cerca de 100 hp em relação a Mercedes. Foi o último ano com a McLaren, que mudou para a Renault este ano.

Em 2018 tudo o que restou para Honda foi fornecer para a Toro Rosso, equipe júnior da Red Bull. Bem, “fornecer” não é bem a palavra certa. A Honda dá sua UP para a Toro Rosso e ainda ajuda a equipe com mais USD 20 milhões.

O défice de potência melhorou mais um pouco e hoje está em cerca de 60 hp. A confiabilidade? A UP de Gasly explodiu na estreia em Melbourne e na última corrida, o GP do Canadá, o mesmo Gasly teve que trocar sua UP antes da classificação e largou em último.

Não se sabe ao certo quanto em dinheiro a Honda vai dar para a Red Bull andar com suas UPs em 2019 e 2020, mas certamente não será menos que 50-60 milhões de dólares.

O futuro ninguém pode prever. Apesar de extremamente improvável pelo seu passado recente e não tão recente, a Honda pode ter uma epifania e aparecer em 2019 com uma UP com 100 hp a mais do que a atual.

Mas se minha avó estivesse viva e soubesse dessa história, tenho certeza que ela chamaria Dietrich Mateschitz – dono da Red Bull – de dinherista.

Adauto Silva
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